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Lula pede voto para Boulos em evento pago pela Petrobras
Política
Publicado em 02/05/2024

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu votos para o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (Psol) durante evento em comemoração ao Dia do Trabalho, realizado nesta 4ª feira (1º.mai.2024), em São Paulo. O ato contou com dinheiro da Petrobras, empresa estatal com ações listadas na bolsa –o que pode configurar crime eleitoral (leia mais abaixo). O atual mandatário do país disse que quem votou nele “tem que votar no Boulos”.

 

O principal adversário de Boulos nas eleições de 2024 é o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Ele disse que sua campanha vai ingressar na Justiça contra a fala do presidente, assim como o pré-candidato a prefeito e deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP).

 

Lula e o deputado federal por São Paulo e líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) dividiram palco no evento com as centrais sindicais na Arena Neo Química, estádio do Corinthians, na zona leste da capital paulista.

Eis a fala completa de Lula:

 

“Só queria dizer para vocês o seguinte: esse rapaz, esse jovem, ele está disputando uma verdadeira guerra aqui em São Paulo. Ele está disputando com o nosso adversário nacional, ele está disputando contra o nosso adversário estadual, ele está disputando contra o nosso adversário municipal. Está enfrentando 3 adversários. Ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições. Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 1989, em 1994, em 1996, em 2006, em 2010, em 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”.

 

O ato das centrais sindicais foi patrocinado pela Petrobras, empresa estatal com ações listadas na bolsa. O Poder360 apurou que o desembolso com o evento das centrais foi de aproximadamente R$ 3 milhões. No ano passado, a estatal também bancou o evento no Dia do Trabalho.

 

Procurada, a estatal disse que o patrocínio foi realizado pelo programa Petrobras Cultural e que respeitou todas as etapas jurídicas necessárias para a sua liberação.”Com o patrocínio, a Petrobras busca reforçar sua imagem como apoiadora da cultura brasileira“, disse. Foi questionada, mas não comentou, a fala do presidente Lula.

 

A produtora Veredas Gestão Cultural foi a responsável pelos shows do evento. Por meio da Lei Rouanet, a empresa apresentou proposta inicial de captação no valor de R$ 6.331.737,75, mas só conseguiu R$ 250 mil. O valor, doado pela faculdade São Leopoldo Mandic, de Campinas (SP), custeou o evento “Festival Cultura e Direitos” na capital e em outros 19 municípios do Estado.

 

O Conselho Nacional do Sesi (Serviço Social da Indústria) também patrocinou o ato do 1º de Maio, mas não informou o valor do seu patrocínio nem comentou a fala de Lula depois de ser procurado pela reportagem deste jornal digital. Informou via assessoria de imprensa que não apoia eventos político-partidários.

 

“O Conselho Nacional do Sesi não apoia eventos políticos partidários. O evento que o Conselho do Sesi apoiou foi o Ato do 1º de Maio unificado das centrais sindicais do país. Evento destinado a celebrar a luta e a organização dos trabalhadores e trabalhadoras”, disse em nota.

Reprodução/Facebook Festival Cultura e Direitos
Banner do evento que contou com a participação de Lula, Boulos e ministros mostra o patrocínio da Petrobras

Ações na Justiça

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, disse que vai entrar na Justiça porque “não há outro caminho“.  “A equipe de campanha vai ingressar com ação judicial. Ficou muito claro o desrespeito à lei eleitoral. Pediu votos claramente. Não há outro caminho“, disse a jornalistas em São Paulo.

 

Kim Kataguiri disse em nota que Lula fez um “pedido explícito” de votos a Boulos e pediu punição à chapa do deputado federal. “A representação foi encaminhada à Procuradoria da Primeira Zona Eleitoral. O objetivo é que o Ministério Público tome medidas para investigar e, se necessário, punir a campanha antecipada“, disse em nota.

 

“É um absurdo fazer campanha eleitoral fora do tempo permitido, porque isso desrespeita as regras da disputa e prejudica a todos. O pleito precisa ser justo, com igualdade para todos os candidatos“, afirmou Kim.

 

Lei eleitoral

O Poder360 falou com 4 advogados sobre o caso. Eles concordaram que se trata de uma afronta à lei eleitoral, mas ponderaram que atos como os de hoje dificilmente recebem punições maiores que multas. Quase todos preferiram falar em off, sem revelar seus nomes.

 

O advogado especializado em legislação de eleições e ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Admar Gonzaga diz que a legislação é clara sobre o tema. Sua incidência pode levar, no limite, à perda do registro da candidatura. O mais comum é haver uma multa.

 

“O candidato não pode colocar outdoor e não pode, por óbvio, usar um palanque patrocinado por uma empresa, que é impedida de fazer doações para campanha eleitoral, para fazer uma manifestação pedindo votos. É uma conduta grave”, disse ao Poder360. Ele foi advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

 

Admar foi ministro do TSE de 2017 a 2019. Ao avaliar o caso, disse que a jurisprudência do TSE tem sido no sentido de punir ações como essa.

 

“Algumas decisões que vemos, estão fazendo com que pessoas tenham uma percepção de impunidade, que a lei é para alcançar os outros. É um objeto claro de ação de investigação de cunho eleitoral que pode culminar no impedimento do candidato beneficiado”, disse.

Reprodução
Telão de evento em que Lula pediu votos para Boulos mostra propaganda da Petrobras

Fonte: Poder360

 

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