Neste sábado, 31, chega ao fim os quatros anos de mandato do governo de Jair Bolsonaro. Eleito pela primeira vez para um cargo público em 1989, quando venceu disputa na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, o parlamentar chegou à Câmara dos Deputados em 1991, sendo reeleito para outros seis mandatos consecutivos. Em 2018, candidato à Presidência pelo nanico Partido Social Liberal (PSL), ele ganhou relevância no cenário eleitoral e passou a despontar nas pesquisas de intenções de votos após ser vítima de uma facada durante campanha em Juiz de Fora, cidade de Minas Gerais. Eleito com 55% dos votos naquele ano, em um segundo turno disputado contra o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), nome escolhido para substituir Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro passou de candidato azarado a presidente da República. Símbolo máximo do bolsonarismo, corrente política da direita que têm o atual presidente como principal expoente, Bolsonaro deixa agora o Palácio do Planalto após derrota nas eleições de outubro, a sua primeira na vida pública.
Ainda que fique o gosto amargo do segundo lugar e a eleição de 2022 represente um revés histórico para o futuro ex-presidente, o resultado das urnas está longe de refletir uma derrota do bolsonarismo. Paulo Niccoli Ramirez, cientista político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), cita que apesar da vitória de Lula, Jair Bolsonaro deixa uma “herança” na vida pública que pode repercutir a longo prazo e minar o futuro governo petista. “Havendo um fracasso do governo Lula do ponto de vista econômico e social, Bolsonaro tem peso para a próxima eleição”, inicia o cientista político, que exalta a “base sólida” construída pelos bolsonaristas em diferentes níveis de governo. “Com essa base sólida do bolsonarismo, a tendência é que haja uma sabotagem do novo governo e isso beneficia a imagem do Bolsonaro a longo prazo”, aponta Niccoli Ramirez.
Essa base do bolsonarismo citada pelo cientista político fica ainda mais evidente quando observados os resultados da eleição ao Legislativo Federal neste ano, que também trouxe uma onda conservadora para o Parlamento brasileiro. Isso significa maior apoio dos congressistas para viabilizar pautas conservadoras, tradicionalmente defendidas por Jair Bolsonaro, mas também pode representar uma oposição substancial ao terceiro mandato de Lula. Em números, é possível dizer que o Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro, desponta como a sigla que mais elegeu parlamentares em 2022. Na Câmara, por exemplo, a bancada do PL terá 99 deputados, contra 68 petistas – no total, os partidos que apoiaram Lula terão 122 deputados na Casa. No Senado, a renovação de um terço da Casa também impulsionou a eleição da direita conservadora, levando o PL ao posto de maior bancada, com 15 senadores contra 9 do PT. Em outras palavras, os dados mostram que apesar de Bolsonaro não ter sido reeleito na disputa mais acirrada da história da política brasileira, o bolsonarismo sai vitorioso em 2022 e ainda respira – e tem forças – para 2026.
Neste sentido, o cientista político Leonardo Barreto defende que o futuro do bolsonarismo vai depender do atual presidente. Segundo ele, apesar de ter construído uma “unidade” na direita, com a junção de seus representantes em mais de um partido, o desafio de Bolsonaro será manter as bandeiras da direita conservadora ligadas ao seu nome. Na visão de Barreto, o atual presidente tem potencial e “recall eleitoral” para se posicionar como um líder da oposição ao governo Lula e das pautas conservadoras, se mantendo como uma “sombra” para 2026. “Bolsonaro tem todas as condições de fazer oposição de natureza popular, que tenha enraizamento no Congresso, que tenha manifestações nas ruas e apelo eleitoral já para daqui a dois anos [nas eleições municipais]. Mas ele tem que querer liderar, e desde o resultado das eleições tem havido um certo questionamento da sua capacidade de liderança nesse processo. Então vamos ter que ver em que direção isso vai”, conclui.
Fonte: Jovem Pan